SOBRE PERDAS E O TEMPO

BRANCA

Branca em seu travesseiro da Barbie. Porque ela era velhinha, mas era fashion.

Hoje uma amiga querida teve que se despedir de seu cachorro de estimação depois de 7 anos de convívio. Momento difícil para todos e não tive como não me lembrar daquela noite em que levei a Branca para o veterinário. Foi então que resolvi entrar no blog para dar uma olhada e percebi que já faz dois meses que me despedi da Caçu pela última vez. E que desde então não escrevi nada.

Impressionante como o tempo passa rápido. E é igualmente impressionante como as coisas seguem o seu rumo. A rotina, a tão famosa correria, a loucura do final de ano não me deixaram perceber que já se passaram dois meses e, mesmo sem que eu percebesse, dois meses se passaram. Essa é a magia do tempo: ele passa mesmo quando a gente não percebe e, independente de nossa vontade, ele sempre segue passando.

Dois meses depois e meu pai parece menos cansado, pois agora consegue dormir as noites inteiras sem ter que acordar 3 vezes para acudir o pobre poodle. O almoço fica pronto mais ligeiro, pois minha mãe não tem que interromper seus afazeres incontáveis vezes para poder leva-la até a área ou dar-lhe de comer. Sim, porque mesmo cega, surda e com 17 anos muito bem vividos, a Branca só gostava de comer o que a gente comia. Sem concessões. Tem até a famosa história do dia em que ela recusou a carne que havia sobrado do dia anterior e preferiu deliciar-se com um belo prato de arroz com brócolis – sim, posso ser acusada de ter mimado demais meu cachorro.

Dois meses se passaram e a casa, sem a presença do cão velhinho, está mais organizada, mais estruturada, mais limpa e infinitamente mais triste. Minha mãe ainda abre a porta da sala com cuidado com medo de que ela esteja parada ali atrás, meu pai cozinha um pouco mais de carne e é impossível entrar no quarto de meus pais sem olhar para o canto em que ficava seu travesseiro. E impossível não sentir uma enorme tristeza ao perceber que ela não está mais ali. A força do hábito é algo difícil de se quebrar.

Confesso que eu, quase sem querer e em um ato que pode ser visto como loucura, acabo chamando seu nome de vez em quando, daquele jeito meio escandaloso em que os poodles gostam de ser chamados (quem conheceu a Caçu sabe bem do que estou falando). É mais forte do que eu. Impossível ver um cachorrinho na rua e não lembrar da Branca. E meu irmão, que final de semana passado veio para casa pela primeira vez desde aquela noite, andava nas pontas dos pés para não pisar em nenhum xixi que acidentalmente tivesse sido feito pelo chão durante a  madrugada. Mas já não há mais xixi pelo chão.

Dois meses depois e eu ainda espero ouvir o latido e chego a ouvir seus passos exitosos tentando deslocar-se pela casa, já com dificuldade, mas nunca sem determinação. O tempo passa, a vida segue, a rotina toma conta das vidas e a vida segue seu curso. Todos sabem que cachorros vivem menos e 17 anos é muito tempo para um cachorro. Dois meses se passaram e eu, na minha correria, nem os vi passar. Mas a cada dia sem a Branca eu percebo a falta que a Branca faz. O tempo passa mais rápido que a saudade.