A DISTÂNCIA

Perguntaram-me alguma coisa sobre o namoro a distância e eu não soube o que responder. Difícil dar conselho sobre aquilo que a gente não entende. Mais difícil ainda é opinar sobre relacionamentos que a gente não conhece ou sobre os quais só conhece um lado da moeda, metade da história a ser contada. Sempre uma tarefa complicada. Mas mesmo sem tecer grandes opiniões na hora, não consegui parar de pensar sobre esse assunto: afinal, porque será que essa tal distância acaba com tantos amores? Será ela a culpada pelos males destes casais apaixonados que se encontram separados pela geografia? Não sei.

Fato é que tenho visto muitas histórias de casais que se separam depois de anos juntos porque não conseguem superar a distância física, a falta de contato, a falta de rotina, a falta do toque, do beijo, do cafuné na hora de dormir. E muitos chegam a afirmar que não faltou amor, mas sim presença e que, apesar de ainda muito se amarem, não dava mais. Acabou.

Entendo as angústias da distância. Eu mesma já me vi deparada com essa situação algumas vezes e, nas duas ocasiões, tomei medidas bem diferentes, mas que até então me pareciam as únicas possíveis: acabar o romance ou ir de mala e cuia para a cidade da pessoa amada. Desnecessário dizer que, em ambos os casos, o final foi o mesmo. Mas serão estas as únicas soluções? Será que o amor, esse de que tanto se fala, não é capaz de superar a distância física de dois corpos?

Aí me lembrei da história contada por minha avó. Durante sua adolescência namorou meu avô durante dois anos à distância. Isso em uma época em que estar longe significava esperar semanas para receber uma carta com notícias e em que nem se cogitava fazer viagens de final de semana para se encontrarem. Era tudo longe, mais demorado, mais trabalhoso. Minha avó me conta que foi difícil, que sofreu, mas nem tanto, e que no final das contas deu tudo certo. Passados os dois anos, meu avô voltou e seguiu-se o romance ao vivo. Vitória do amor.

Talvez seja essa a resposta. Não sabemos esperar. Queremos o amor agora, imediato e, de preferência, sem grandes sacrifícios. Preferimos a presença do corpo do que o conforto da presença de almas quando os dois não são possíveis. A distância traz a tona os ciúmes, as inseguranças, os medos e não queremos nada disso. Queremos a felicidade descomplicada.

Ao se estar longe se perde o conforto da rotina, temos que aprender a ser dois sendo só um a maior parte do tempo e somos colocados a prova a todo momento. Perde-se a tão famosa “vida de casal” e precisamos aprender a viver a nossa vida de sempre tendo alguém com quem contar, mesmo que de longe. O carinho distante, as ligações e o pensamento não bastam. A saudade chega a doer e não é raro conhecer pessoas que acabam se acostumando tanto a estar sozinho que deixam de senti-la depois de um tempo. E aí se perde tudo, até o amor.

A distância parece criar o medo, de deixar à flor da pele a insegurança de não saber se amanhã ou depois conseguiremos superá-la e, finalmente, estar juntos. E esquecemos que, em se tratando de amor, nunca há segurança de que se ficará juntos para sempre, a gente simplesmente acredita.

Amar é sempre um risco, por melhor que seja o amor. Amar à distância pode ser um risco ainda maior. Mas acredito que se engana quem pensa que a distância mata o amor: somente a falta de amor não é a capaz de superar a distância. E pensando bem, talvez isso não seja algo tão ruim assim, melhor descobrir logo e seguir a diante.